domingo, 17 de janeiro de 2010

Aquele com a Menina dos Trilhos...(A HISTORIA)




               Faz temo que eu não me lembrava do que era estar no colégio, todos os dias para esquecer o vazio de minha casa, eu simplesmente pegava meu papagaio verde e corria com ele para sentir o vento. Geralmente eu ia para os arredores da cidade, de preferência para as montanhas ao pé do vale, onde não havia ninguém e eu pudesse estar livre dos meus pais e me sentir em paz.
                Toda manhã, sem ligar se haveria aula ou não, e sem ter ninguém que se preocupasse com isso por mim, eu ia aos arredores da cidade soltar minha pipa ao vento. Essa era a segunda pipa que eu possuía, a primeira foi roubada numa competição em que se passava cerol na linha e a empinava e a esquivava sobre as outras pipas, ate que uma cortasse a outra. Essa minha pipa atual, eu ganhei de uma senhora que mora perto de minha casa, mas atualmente a pipa esta modificada, a “rabiola” esta maior e mais colorida, tem cerol na linha, e minha pipa é uma das mais bonitas da região.

Em uma manhã de primavera, o céu estava branco como o leito, bem cedinho eu despertei e fui procurar um lugar aos arredores da cidade para impinar minha pipa, era muito cedo ainda, não havia nenhuma pipa que cortara o céu alem da minha naquela manha. Contudo, uma inesperada pessoa perturbou a minha manhã. Era uma garota.
Willie vinha sobre os trilhos do trem como se não houvesse nada ao seu redor. Carregava uma banana na Mao direita e uma boneca quebrada na outra, ao mesmo tempo que se equilibrava sobre os trilhos. Nunca tinha visto aquela menina antes. Ela era mais nova do que eu, mais pelo seus olhos ela parecia que vivera uma vida inteira.
Willie estava na quinta série, e embora fosse uma criança, como qualquer uma em Mississipi, ela era mais madura do que todas da sua idade. Carregava uma boneca loira e com a cabeça destruída, mas se comportava como uma mulher. Aquela pequena menina, de poucos anos a menos do que eu, se comportava como uma dama. Willie aspirava a ser como sua Irma, “Atração Principal” como dizia ela, já que herdara tudo o que a sua Irma já tivera antes, com exceção de um colar que não me lembro exatamente que fim teve.

Todos os engenheiros da cidade conheciam a Irma de Willie, Alva, quando ela contou-me quem era sua Irma tive um respeito por ela e um pouco de inveja dos engenheiros de trens, do qual ela herdara. Ela freqüentava todas as festas que os homens da ferrovia a proporcionaram.
Não posso dizer se tudo o que ela me contou era verdade ou não, só me lembro de quando vi uma menina tão mulher daquele jeito, tive também vontade de ser como os engenheiros de trens, maquinistas e até os caras da fornalha, que desfrutavam de sua presença e de seus agrados. Willie que aspirava tanto em ser como sua Irma, “atriz de cinema”, deixou em mim aquela lembrança que temos quando assistimos a morte pelo cinema, a atriz morre de maneira dócil, confortável, ao som de uma boa orquestra. Não sabia se veria ou não Willie de novo, por isso a vejo como uma morte cinematográfica, ela morreu naquela manha, mais ainda vivia em mim...

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